terça-feira, 31 de maio de 2011

O Corpo Perfeito

Os cientistas, que ainda têm muito a conhecer sobre o funcionamento do corpo humano, tentam, improficuamente, compreender a natureza do corpo de Jesus Cristo, intrigados em entender como Ele pôde ressuscitar, após ter sido supliciado e ascendido aos céus. Cabe-nos, aqui, deixar isso para segundo plano, visto que, se há um mistério em torno de Seu corpo, há indubitável certeza quanto ao Seu ministério.
A máxima, “mente sã, corpo são”, configura-se, no estado da arte, o exemplo ímpar do maior intérprete de Deus que já visitou nosso planeta. Nesta direção, ousaremos descrever, palidamente, a forma com que Ele se manifestou, cientes de que não há vocabulário, por mais erudito, em palavrear a expressão magnânima do inenarrável.
Ousemos então:
“Lábios de beleza invulgar foram esculpidos com todo o cuidado na simetria de suas linhas e tonalidades de cores harmônicas, a magnetizar quem os visse e por eles ouvisse as doces melodias da Verdade da Boa Nova.
Pelos caminhos por onde percorreu, sacralizaram-se o solo, as plantas, as flores, os animais, irradiando perfume encantador, pois Seus pés O guiaram sempre na firme senda da Retidão.
Não estava subjugado ao tempo, pelo contrário, seu cérebro ligava-O diretamente a Deus pelo pulso cósmico que ditava o ritmo de Suas ações, numa obediência e disciplina do músico que executa, com fidelidade, a parte que Lhe cabe na orquestra, sem questionar a melodia ou o Maestro.
Seus joelhos jamais deixaram de dobrar-se diante do Pai, quando, com toda a delicadeza, beijava o chão na perfeita comunhão entre a terra e o céu. Na mesma posição, lavou os pés daqueles que O seguiam, apresentando a humildade em todo o esplendor, pois, mesmo sendo Mestre, veio para servir e não ser servido.
Hauria inesgotável energia no influxo do trabalho incessante na caridade, onde suas mãos, por compaixão, sempre estiveram estendidas às rogativas daqueles que viessem de pura intenção, em busca de Sua intervenção.
Do alto do madeiro infame, com a pele tingida pelo rubro fluido, cumpria-se a profecia pelo perdão, pois Ele que tudo sabia, de Seu sangue viria a salvação.
Seu coração rufava compassadamente, em uníssono com o Criador, espraiando Amor para todos aqueles sedentos de justiça ou fatigados pela dor.”
Sua mensagem atemporal, de alcance mundial, inunda os corações abertos e convida para o grande baile celestial, onde Ele aguarda que nós, vestidos, adequadamente, com a roupa nupcial adentremos Seu reino de glória e de bem-aventurança.

Minha amada mortal

Por que me abandonaste, querida? Neste derradeiro momento, onde estarás? Quanta saudade tenho, meu amor, minha perdição!

Lembro bem quando te conheci: pequena, formosa, atraente, mas lívida, gélida e amarga. Nossos amigos te apresentaram a mim e, mesmo sem intenção, mundo novo de emoção se desvelou. Cores, alegria, energia, vibração, tudo pela sensação de poder calar a tristeza do porvir sem preocupação.

Em tua presença, refúgio de minha alma incauta. Nunca julgaste meu excesso, nem minha falta. Por causa de ti da família afastei. Defendendo nossa relação de todo coração, mas sem compreensão, até o trabalho perdi.

O que fizeste de mim? Talvez não fostes o que eu pensava! Será que estava errado?

Decidido, afastei-me, então, de ti, e a vida me foi retornando ao que era antes de te conhecer: tranquila, mas tediosa.

Num dia ruim, meus amigos nos reconciliaram, porém não era a mesma coisa. Respondias, então, minhas súplicas com laconismo incompreensível. Estorcergava em desvario na nebulosa dos pensamentos que orbitavam minha mente enferma, obliterando sentimentos nobres. Forças telúricas sinistras assaltavam-me a lúgubres presságios seguidos por torrentes reações químicas golpeando a já debilitada máquina biológica. Experimentei a transição do ser para o não ser, o vazio extremo, onde inexistem alegria e tristeza, no calabouço de mim mesmo.

O teu legado: remorso que dilacera o peito e o pranto companheiro que te substituiu. A cirrose hepática dá o golpe de misericórdia em minha triste existência desperdiçada nos desatinos da conduta transviada. Confiei nos amigos fugazes da noite ébria e das risadas funestas embebidas de torpor em minha frágil consciência e me entreguei a ti: a bebida alcoólica.

E tu, amigo, que ris no alto da insensatez que fora minha um dia, tomai de mim o desejo do amigo desconhecido que anseia com esta mensagem o resgate das almas perdidas na ilusão dos prazeres subvertidos na dor.

Paradoxo existencial

Sabe irmãos, ando cambaleante nas certezas de minha maturidade ingênua, e às vezes:

a claridade me cega,
tenho sede em fonte pura,
degusto amargor na douçura,
vejo vivos entre mortos,
recalcitro na disciplina,
tenho medo da fé,
me irrito na gentileza,
o silêncio me ensurdece,
tenho fome no banquete,
busco a verdade na mentira,
clamo socorro sem pedir,
padeço no prazer,
vivo o eterno no transitório,
fujo de mim mesmo.

Oh mundo contraditório!
Até quando dormirei acordado no sonho de minha realidade ilusória?
Até quando a Verdade ser-me-á inconveniente?
Incauto, rebelde e indolente, devo aceitar a máxima do meigo nazareno: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida!".

A Jornada

Pelo Teu amor infinito me deste vida!
Não faltou abrigo, comida e bebida.
Porém, minha ingratidão e iniquidade foi sentida,
de Tua mão austera, mas bendita.

Nova chance foi dada
agora, porém escravizada
por povo desconhecido,
com o coração oprimido.

Clamei, Senhor!
Mandaste, então, Teu servidor.
De cajado na mão, libertou.
Para novas terras, exortou.

Reis e Rainhas tive, mas escravos também.
Afastei-me de Ti, porém.
Sucumbi nova dominação
como meio de educação.

Clamei, Senhor!
Mandaste, então, Teu Salvador.
Da boa nova ensinou amar,
da túnica branca e pés descalços humilhar.

Muitos de mim não entenderam,
cegos e doentes viveram.
Outros de mim Te adoraram,
de alma purificada ficaram.

Eu, povo escolhido, o messias ainda aguardo,
farei parte do reino sagrado.
E eu, povo liberto, canto Hosana,
aprendi a amar toda a raça humana.