terça-feira, 31 de maio de 2011

Minha amada mortal

Por que me abandonaste, querida? Neste derradeiro momento, onde estarás? Quanta saudade tenho, meu amor, minha perdição!

Lembro bem quando te conheci: pequena, formosa, atraente, mas lívida, gélida e amarga. Nossos amigos te apresentaram a mim e, mesmo sem intenção, mundo novo de emoção se desvelou. Cores, alegria, energia, vibração, tudo pela sensação de poder calar a tristeza do porvir sem preocupação.

Em tua presença, refúgio de minha alma incauta. Nunca julgaste meu excesso, nem minha falta. Por causa de ti da família afastei. Defendendo nossa relação de todo coração, mas sem compreensão, até o trabalho perdi.

O que fizeste de mim? Talvez não fostes o que eu pensava! Será que estava errado?

Decidido, afastei-me, então, de ti, e a vida me foi retornando ao que era antes de te conhecer: tranquila, mas tediosa.

Num dia ruim, meus amigos nos reconciliaram, porém não era a mesma coisa. Respondias, então, minhas súplicas com laconismo incompreensível. Estorcergava em desvario na nebulosa dos pensamentos que orbitavam minha mente enferma, obliterando sentimentos nobres. Forças telúricas sinistras assaltavam-me a lúgubres presságios seguidos por torrentes reações químicas golpeando a já debilitada máquina biológica. Experimentei a transição do ser para o não ser, o vazio extremo, onde inexistem alegria e tristeza, no calabouço de mim mesmo.

O teu legado: remorso que dilacera o peito e o pranto companheiro que te substituiu. A cirrose hepática dá o golpe de misericórdia em minha triste existência desperdiçada nos desatinos da conduta transviada. Confiei nos amigos fugazes da noite ébria e das risadas funestas embebidas de torpor em minha frágil consciência e me entreguei a ti: a bebida alcoólica.

E tu, amigo, que ris no alto da insensatez que fora minha um dia, tomai de mim o desejo do amigo desconhecido que anseia com esta mensagem o resgate das almas perdidas na ilusão dos prazeres subvertidos na dor.

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