segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Há Espíritos? - O Livro dos Médiuns

Essa pergunta pode parecer despropositada para um verdadeiro espírita, certo? Não para o Codificador da Doutrina que a postou como o ponto de partida do livro em tela.
Será que nós teríamos condições de respondê-la de forma contundente, baseada na razão, ou será que responderíamos por crença? Será que responderíamos: “acredito, claro!” ou  utilizaríamos argumentos convincentes para nós mesmos? Por que a maioria de nós teme a morte? Por que medramos diante da visão de um Espírito, mesmo sendo de um parente amado? Será que conhecemos, de fato, a sua natureza? Até que ponto confiamos na narrativa de um médium ao expor uma experiência? Quantas perguntas se sucederam, não é? Talvez ainda sejamos reticentes em relação a esta questão, ou por ignorância ou por ainda carregarmos os atavismos dogmáticos ínsitos em nosso ser por milênios.
Kardec, por outro lado, dissecou a pergunta em epígrafe utilizando seus predicados intelectuais em nosso auxílio. O Codificador elabora seu raciocínio por indução, a partir de algumas premissas (princípio que serve de base para se chegar a uma conclusão). Nesta direção, vamos tentar reconstruir a lógica empregada por ele. 
1.     Deus existe. A base argumentativa está fundada no teísmo. A negação absoluta de qualquer inteligência fora da matéria impossibilita a continuação do raciocínio. Portanto, a argumentação para a existência de Deus precede a discussão acerca da existência dos Espíritos; no axioma de nossa ciência, não há efeito sem causa, tudo que não for obra do homem, certamente, não foi do acaso.
2.     O homem tem uma alma. Se pensamos, logo existimos. Se existimos, logo fomos criados por uma “inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” Esta afirmativa encerra que Deus criou a matéria e os princípios inteligentes (espíritos) que se desenvolveram por várias fases (reinos) até a que nos encontramos hoje, a hominal. Em verdade, somos Espíritos individualizados e, quando encarnamos, passamos a ter uma alma, que é a manifestação inteligente, fruto do binômio Espírito-matéria (ver “O Livro dos Espíritos, questão 76).
3.     A natureza do Espírito difere da do corpo. O Espírito se utiliza da mente para manipular as propriedades da matéria inerentes de nosso orbe, a fim de moldar a forma com que se manifesta nos dois planos. A máxima “dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo” poderia invalidar o nosso raciocínio, pois o perispírito “habita” a matéria mais densa do corpo, concomitantemente. Porém vale ressaltar que ainda não há, na ciência, equipamento que possa detectar o corpo semimaterial.
4.     A alma sobrevive após a morte do corpo. Somos almas hoje encarnadas e continuamos existindo após a extinção do corpo carnal. De que valeria, para o Criador, seres “provisórios” e imprestáveis na perspectiva da eternidade? Necessariamente, mantemos nossa individualidade espiritual e damos continuidade a ela em nossa jornada evolutiva.
5.     O Espírito destituído do corpo carnal goza de consciência de si mesmo. Atributo da individualidade, o sentido de existência faculta ao Espírito o desejo de alcançar seus objetivos, cada qual no seu nível evolutivo. Destituídos desta consciência, seríamos seres sem utilidade para a vida maior.
6.     A alma vai para alguma parte. Quanto à circunspeção da alma no espaço, também é forçoso aduzir que, de alguma sorte, por ser constituída de matéria sutil e de possuir vontade própria, habitará locais que lhe forem particularmente associados, por sintonia, às suas conquistas morais.
7.     O Espírito desencarnado pode comunicar-se com os encarnados. Por fim, com o fito de apresentar a existência dos Espíritos como sentença verdadeira, ainda temos todas as provas milenares, que perduram até os dias de hoje, de manifestações que, para muitos, são originadas por seres demoníacos ou por fraude. O fato é que, apesar da distância vibracional da constituição dos corpos, a mente é o elo que faculta a ligação entre os seres nos dois mundos.
A dialética que Allan Kardec empregou em seus estudos filosóficos substituiu os dogmas milenares das doutrinas impostas pelos cleros por meio do raciocínio. Procura, com isso, desmistificar uma série de preconceitos, que vigem ainda hoje, acerca dos Espíritos e de suas manifestações, mas que, com o tempo, o homem amadurecerá e as religiões unificar-se-ão nos ensinamentos morais de Jesus à luz do bom senso e da razão.

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